Machado de Assis, mestre das letras e observador sagaz da sociedade, sempre despertou a curiosidade de seus admiradores. Suas obras exploram as complexidades da condição humana, abordando relações interpessoais, a psicologia dos personagens e dinâmicas sociais.
No entanto, um aspecto intrigante e muitas vezes esquecido de sua vida é sua possível carreira como contador, ou "guarda-livros".

O artigo científico "Machado de Assis, guarda-livros?" de Isabel Cristina Sartorelli e Eliseu Martins, investiga profundamente essa questão. O estudo desafia as divergências entre os biógrafos de Machado de Assis e explora a ideia de que, por trás da fachada do literato renomado, poderia ter existido um habilidoso contador, influenciando não apenas suas obras, mas também sua visão de mundo.
Machado de Assis
Machado de Assis (1839-1908) foi um escritor brasileiro, um dos nomes mais importantes da literatura brasileira do século XIX. Destacou-se principalmente no romance e no conto, embora tenha escrito crônicas, poesias, crítica literária e peças de teatro.
Foi funcionário da Livraria e Tipografia Paula Brito, como revisor e caixeiro. A livraria era local de reunião de intelectuais. Nesse período entregou-se sofregamente à leitura das grandes obras da literatura universal. Fez os primeiros versos, iniciando a colaboração na imprensa, no periódico A Marmota Fluminense (1855-1861), além de outros, até que se ligou ao Correio Mercantil, Diário do Rio de Janeiro, Jornal das Famílias, Semana Ilustrada. Firmou-se como cronista e contista, conquistando logo público certo. Publica também poesias.
A Carreira de Machado de Assis no Serviço Público
A carreira de Machado de Assis como funcionário público é amplamente reconhecida. O artigo destaca seus cargos no Ministério de Viação e Obras, especialmente o período em que atuou como Diretor-Geral de Contabilidade. Apesar de alguns argumentarem que sua indicação foi motivada por razões políticas, é inegável que as funções desempenhadas exigiam conhecimentos sólidos em contabilidade e finanças.
"Machado de Assis atuou em áreas de apoio no Ministério de Viação e Obras, tendo ocupado os cargos de Diretor de Comércio (de 1889 a 1892), Diretor-Geral de Viação e Obras (de 1892 a fins de 1897) e de Diretor-Geral de Contabilidade (de 18.11.1902 até seu falecimento, em 1908). É que quando ocupava o cargo de Diretor Geral de Viação e Obras, o requisito legal para ocupar esse cargo era ser engenheiro (isso foi o que passou a ser exigido em fins de 1897). Com isso, Machado de Assis é colocado em disponibilidade, retornando ao Ministério apenas em fins de 1902, agora no cargo de Diretor-Geral de Contabilidade (para o qual não havia a exigência de ser engenheiro)."
Machado de Assis: Contador ou Escritor?
Um dos aspectos mais interessantes do estudo é a análise das atribuições de Machado de Assis como diretor de contabilidade em comparação com as funções de contadores, economistas e administradores da época. A similaridade entre suas responsabilidades e as tarefas típicas de um contador sugere que ele realmente desempenhou um papel similar ao que hoje reconhecemos como contador.
Além disso, o artigo explora as interpretações literárias da relação de Machado de Assis com a área contábil. Críticos literários, como Bosi e Franco, argumentam que suas obras revelam uma profunda compreensão das questões econômicas e financeiras. Biógrafos como Pereira e Montello identificam personagens que podem ecoar a vida do autor como contador. No entanto, há discordâncias, como Caldwell, que rejeita essa perspectiva.
"O fato de ter ocupado o cargo de Diretor-Geral de Contabilidade pode representar para alguns o reconhecimento pela longa carreira atuando em áreas que exigiam conhecimentos de contabilidade; para outros pode ser alvo de questionamentos, afinal, a justificativa para tal pode ter sido meramente política. Mas em relação a esse último argumento, há que considerar que o ministério em questão movimentava grandes quantias em dinheiro, o que certamente exigia alto grau de responsabilidade do dirigente responsável, além de conhecimentos na área."
Contexto Histórico e Legal
O estudo também aborda o contexto histórico e legal da profissão contábil na época de Machado de Assis. As mudanças nas exigências para cargos públicos, como o requisito de ser engenheiro para o cargo de Diretor-Geral de Viação e Obras, são apontadas como fatores que influenciaram sua carreira. A análise cuidadosa da legislação e das práticas da época sugere que, se estivesse vivo e buscasse o reconhecimento profissional, Machado de Assis poderia ter sido formalmente reconhecido como guarda-livros, o equivalente contemporâneo a um contador.
"Outra observação é a respeito da sua atuação como diretor de contabilidade: analisando-se suas atribuições com o que era atribuído a contadores, economistas e administradores, percebe-se maior similaridade com a função de contador. Também percebe-se a importância jurídica da assinatura do contador, conforme demonstrado pela legislação aqui trazida, e que serviu de base para que os profissionais que tivessem assinado documentos públicos de contabilidade fossem posteriormente reconhecidos como contadores."
Leia o artigo completo
Em resumo, o artigo "Machado de Assis, guarda-livros?" lança uma nova luz sobre a vida multifacetada desse renomado escritor. Ele nos convida a considerar que, por trás de sua genialidade literária, pode ter existido um contador habilidoso e observador da complexidade financeira do mundo ao seu redor. Essa exploração fascinante nos lembra que os grandes autores muitas vezes trazem consigo uma bagagem de experiências diversas, enriquecendo nossas interpretações de suas obras e suas contribuições para a sociedade como um todo.
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Fonte: Sartorelli, I. C., & Martins, E. (2016). Machado de Assis, guarda-livros?. Estudos Avançados, 30, 271-291. https://doi.org/10.1590/S0103-40142016.30880017