Na postagem de hoje, trazemos uma pequena pérola da Revista Brasileira de Contabilidade, uma publicação que não só celebrava os feitos e avanços da profissão, mas também tinha espaço para um pouco de humor e descontração.

Contabilidade Celeste
Talvez por ser uma ciência de ordem, a Contabilidade entusiasma grandemente aqueles que se lhe dedicam. Não são poucos os Cerboni, os Fabio Besta e outros verdadeiros apóstolos e guardas das belezas da Contabilidade.
E, por exemplo, conheço um que é o protótipo do bom contabilista. É o Waldemar. Estudioso dessas questões, o meu amigo é principalmente um trabalhador de força, sempre disposto a qualquer serviço, por mais árduo e dificultoso que seja.
Porém, trabalha demais, o Waldemar. Não é a primeira vez que lhe tenho advertido isso, mas ele é incorrigível. Um dia desses não foi ao escritório; soubemos que estava enfermo de um formidável esgotamento. Fui visitá-lo. Encontrei-o muito fraco, porém bem disposto. Depois das novidades mais em foco, a conversa descaiu, naturalmente, para a doença dele. Achei que devia aproveitar o momento e fiz-lhe um pequeno sermão.
Disse-lhe que as suas condições financeiras já lhe permitiam bom descanso, ou pelo menos diminuição de trabalho. Lembrei-lhe a família, os amigos, para os quais seria perda irreparável, e terminei em tom dogmático, de apóstolo incendido:
— De que serve tanto esforço? Dia virá em que também fecharás os olhos a este mundo, e, então, de que serve tanto amor à Contabilidade, tanto empenho em resolver-lhe os problemas? A Contabilidade não te segue depois da morte...
— Não segue?, retrucou ele prontamente. Segue, sim senhor.
— Hein?! Como?! disse eu, espantado e incrédulo.
— Ora essa. Segue, sim, senhor. Pois quando eu morrer não vou PRESTAR CONTAS a Deus?...
Fonte: Revista Brasileira de Contabilidade (1930)